terça-feira, 12 de janeiro de 2010

Herdeiros do Porvir 23

Herdeiros do Porvir 23

segunda-feira, 30 de novembro de 2009

Entrevista com Dom Luiz de Orleans e Bragança, Chefe da Casa Imperial do Brasil

Os monarquistas brasileiros não constituem, como querem fazer supor alguns, um grupo de saudosistas, fechado sobre si mesmo e incapaz de influenciar os rumos da sociedade.


Desde a queda da "cláusula pétrea", em 1988, o movimento monárquico brasileiro, sob a sábia orientação do Príncipe D. Luiz de Orleans e Bragança, foi progressivamente assumindo um papel discreto, mas de inegável importância no panorama cultural, político e ideológico brasileiro: o de um pólo de pensamento que qualquer pessoa lúcida e imparcial, independente de sua opção política, não pode deixar de tomar em consideração e pesar devidamente.

Assim, é freqüente ser o Chefe da Casa Imperial procurado por jornalistas, e também por brasileiros das mais diversas origens, desejosos de conhecer o pensamento de quem é porta-voz natural da corrente monarquista, sobre temas da atualidade que muitas vezes nem têm realação direta com a questão Monarquia x República.

Um desses temas, que vem preocupando os brasileiros e dividindo as opiniões, é o do Fórum Social Mundial realizado há pouco em Porto Alegre, simultaneamente ao Fórum Econômico Mundial de Davos, na Suíça.

Sobre esse assunto D. Luiz concedeu a seguinte entrevista a "Herdeiros do Porvir":

Herdeiros do Porvir: Qual o alcance que Vossa Alteza dá aos dois Fóruns mundiais?

Dom Luiz: Segundo o que a mídia veiculou, em Davos se teriam reunido os propagandistas da globalização, e em Porto Alegre, aqueles que se opõem a ela. Portanto, estaríamos diante dos pró e anti-globalização. Ora, esta visão parece-me superficial. Creio que mais do que uma oposição à globalização, o que os participantes do Fórum de Porto Alegre propuseram foi um outro tipo, alternativo, de globalização. Seriam, pois duas propostas paralelas, rumo à criação de uma ordem mundial, inspirada pelo laicismo, caracterizada pelo nivelamento social, econômico e cultural.

Herdeiros do Porvir: Estamos, então, diante de uma falsa alternativa?

Dom Luiz: Claramente. Aliás, não será a primeira vez na História que isso acontece. No lento caminhar do processo que tem levado à destruição das instituições da Civilização Cristã - lembro aqui de passagem a queda de tantas e tantas monarquias - a opinião pública foi muitas vezes colocada diante de falsas alternativas. Na Revolução Francesa, por exemplo, os jacobinos, quase comunistas, tinham como opositores os girondinos, mais moderados mas igualmente igualitários, entre os quais havia até nobres que chegaram a ser guilhotinados. Mas tanto uns quanto outros desejavam atingir um fim semelhante, só que de formas diversas, devido a inúmeros fatores psicológicos, culturais e até religiosos.

Herdeiros do Porvir: Qual o significado mais profundo do Fórum Social Mundial de Porto Alegre?

Dom Luiz: Para mim, trata-se de uma tentativa de reedição da utopia igualitária, de uma metamorfose, depois do espectacular fracasso da União Soviética. O que me alarma é ver ali exaltados movimentos e personalidades que levam a cabo, em países como a Colômbia, a tentativa de implantação, muitas vezes pela luta armada, de um estado social e político doentiamente caótico e miserabilista. E essa seria a fórmula proposta para toda a América Latina...

Herdeiros do Porvir: O jornal "Le Monde Diplomatique" chegou a afirmar que o terceiro milênio começava em Porto Alegre. Por que essa importância dada a uma cidade sul americana?

Dom Luiz: Creio que não se deve considerar um acaso a realiazação dos Fóruns, um numa cidade suíça, portanto européia, e outro numa cidade brasileira, portanto sul americana. Com a queda do Muro de Berlim e com a diminuição da polarização Leste/Oeste, vai-se tendendo a uma polarização Norte/Sul, que oporia os países pobres, o chamado terceiro mundo (Sul) aos países ricos, Estados Unidos e Europa (Norte). Ora, tal oposição criada artificialmente caracteriza uma espécie de luta de classes a nível de Nações, com a qual não posso estar de acordo.

Herdeiros do Porvir: Como encara o fenômeno da globalização?

Dom Luiz: Considero com apreensão certos aspectos da globalização. As relações humanas são baseadas em laços de afeto, de cultura, de religião, e não apenas econômicos. Ora, o processo de globalização tendo como fator quase exclusivo o econômico, acaba por aniquilar todos os outros, pondo em perigo as culturas regionais e até a soberania das nações.

Herdeiros do Porvir: Quer dizer que no seu entender qualquer comunidade de Nações é prejudicial?

Dom Luiz: Não. Houve até exemplos históricos benéficos. Veja por exemplo o Sacro Império na Europa. Eu mesmo defendi, no Prefácio ao livro "Nobreza e Elites tradicionais análogas", do Prof. Plinio Corrêa de Oliveira, a existência de uma espécie de commonwealth toda ideal, feita de Fé católica, de sentimentos e de cultura, constituída por todos os povos, de diversas raças e nações, que como o Brasil, amam deveras Portugal e falam a língua de Camões.

Herdeiros do Porvir: Diante das incógnitas e perplexidades suscitadas hoje pelo caos social e político, D. Luiz vê alguma alternativa?

Dom Luiz: Muitas pessoas são por demais imediatistas e desejam uma solução mágica e rápida para uma deterioração das instituições e do tecido social que se vem operando há muitas décadas, eu até diria há séculos. Creio que a verdadeira solução é mais profunda. Sendo eu totalmente avesso ao espírito de luta de classes e amigo da hierarquia harmoniosa e equilibrada na organização social humana, penso que é na reabilitação das verdadeiras elites que se encontrará um fator autêntico de estabilidade, pois elas têm uma natural afinidade com as melhores tradições e as aspirações mais profundas do povo e da Nação. Friso, verdadeiras elites e não essas pseudo-elites que adotam para si modos extravagantes e até escandalosos e a quem falta o senso do dever e da dedicação. Ressalto que hoje muitos sociólogos e analistas políticos, sobretudo norte americanos, reconhecem que inúmeras crises com que se debatem as sociedades modernas provêm da ausência ou da omissão das verdadeiras elites.

Herdeiros do Porvir: Isso também vale para o Brasil?

Dom Luiz: Gostaria de chamar a atenção para um aspecto: o Brasil real não é o que os jornais e a mídia em geral nos apresentam. Eu e meus irmãos, que viajamos muito, temos podido conhecer de perto a realidade do Brasil. Aquele Brasil de homens empreendedores, com espírito desbravador, lutando contra as dificuldades naturais mas também contra os imensos ônus que o regime atual lhes põe sobre os ombros e que, apesar de tudo, continuam a fazer o País prosperar. Dou como exemplo, de passagem, a imensa carga tributária que pesa sobre todos os brasileiros. Mas, como dizia, conhecendo essa realidade tem-se esperança no Brasil, porque nosso povo tem dinamismo, tem harmonia social, tem bom senso e sobretudo tem Fé. Creio, portanto, que com a ajuda de Nossa Senhora Aparecida, a quem meu antepassado D. Pedro I consagrou o Brasil, um dia retomaremos as vias providenciais que farão de nós uma grande Nação.

arquivo  HC7K7CP37DMY 

sábado, 28 de março de 2009

Desmandos Financeiros das Repúblicas

J.G.Beccari (*)

Em tempos de reforma tributária, não se cogita da redução da carga tributária sob o pretexto de sua necessidade para a manuntenção do hiperdimencionamento do estado brasileiro.

Mas a verdade é que, o regime republicano, além de cumprir mal as necessidades do bem comum da Nação, se caracteriza, também, pelos conhecidos desmandos financeiros.

Quem ainda não teve o desprazer de comparecer a um órgão público? Os móveis estropiados, a falta de material, o atendimento geralmente displicente... Algumas raras exceções, pagas a peso de ouro (ouro dos contribuintes, é claro!) apenas confirmam tal regra.

Com efeito, o mau trato da “coisa pública” é praticamente inerente à natureza humana. Diz o

ditado popular: “o que é de todos não é de ninguém.”

Assim, no regime republicano em que, por definição, os bens públicos são de todos, eles são maltratados, desperdiçados, descuidados. E isto será mais verdade à medida em que mais bens sejam públicos. Os países socialistas em que a propriedade pública predomina são o exemplo clássico.

Mas, um dos maiores problemas que aflige os regimes republicanos, é o dos desmandos financeiros. São os chamados “ralos”, por onde o dinheiro público escoa com conhecida facilidade.

Vejamos, primeiramente, os óbvios problemas que as obras e compras promovidas por órgãos públicos apresentam nesse sentido. Todos sabem que seus orçamentos costumam atingir de duas três vezes (quando não mais...!) o custo verdadeiro dos bens e serviços licitados, ainda que seja por mera garantia contra atrasos nos pagamentos...

As obras e serviços prestados pela própria administração não são melhores porque padecem da ineficiência e findam por custar muito mais ao bolso do beneficiário (o contribuinte). Os quadros exagerados de pessoal, muitas vezes de uma dedicação não mais do que parcial, encarecem sobremaneira os resultados. Nem se diga da morosidade... Daí porque as empresas privadas são sempre muito mais enxutas e eficientes.

Por fim, a máquina administrativa do fisco consome a maior parte dos tributos para manter (não somente os agentes arrecadadores, mas as procuradorias, os tribunais de impostos e taxas, os órgãos do Poder Judiciário estadual e federal, etc.). Mais de 50% da arrecadação é gasto na própria atividade arrecadatória. Tudo isto sem contar o pesadíssimo encargo para as empresas se manterem atualizadas e recolherem corretamente tais tributos, além da verdadeira indústria jurídica que gira em torno do Fisco tanto para assessorar as empresas como para livrá-las dos desmandos do Poder Público e dos legisladores...

Ah! Os legisladores! Focalizemos um outro aspecto: o dos gastos do Poder Legislativo.

A remuneração direta e indireta dos parlamentares brasileiros torna o Poder Legislativo Federal, Estadual o mais dispendioso dos Poderes.

Tais salários são copiados proporcionalmente pelas Assembléias Legislativas estaduais e pelas Câmaras Municipais de todo o Brasil, a tal ponto que grande parte do orçamento dos Estados e de Municípios é destinada a estes órgãos.

As despesas para manutenção dos mais de 500 parlamentares (Senado e Câmara) atingem bilhões de reais, ou seja, vários milhões por cargo. No nível estadual e municipal, tais gastos exagerados também se repetem. Não são somente despesas diretas, mas também polpudas aposentadorias que aquinhoam os funcionários públicos destes órgãos.

Tudo isso para quê? Para quase nada. Sim, não bastasse o inextricável “cipoal” de leis que tornam impossível a vida do cidadão, um número muito maior de projetos é proposto pelos legisladores e é rejeitado como “lixo”: é o chamado “entulho legislativo”. Um exemplo contundente de tal realidade são os gastos despropositados, decorrentes da convocação extraordinária do Congresso Nacional.

No Império do Brasil, as funções parlamentares e legislativas, em todos os níveis, eram, o mais das vezes, exercidas gratuitamente, tão somente pela honra do cargo e pelo dever moral de servir ao bem comum. A figura do político profissional era uma excrecência.

Aliás, a coisa pública era tratada com cuidado. O Estado limitava-se a suas funções essenciais e as cumpria bem e parcimoniosamente. A diferença entre a menor remuneração (a de um escravo liberto) e a maior (de um desembargador) era de apenas 12 vezes. E não se diga que se tratava de um caso isolado e de tempos passados entre as monarquias.

Ainda hoje, na rica Inglaterra, é conhecido o fato de que parlamentares menos favorecidos moram em pensões nas proximidades do Parlamento e vão de bicicleta para as sessões...

O fato é que, se o Brasil almeja o florecimento econômico, deverá, necessariamente, reduzir sua máquina pública ao essencial e diminuir proporcionalmente os tributos que praticamente inviabilizam as empresas e a própria economia nacional. O essencial como defesa nacional, poder judiciário, diplomacia, etc. deve ser mantido e bem remunerado. Os demais serviços podem ser privatizados ou reduzidos ao mínimo, com mais eficiência. Os desvios que restam serão coibidos, pela força moral do monarca cujo mote é “servir ao povo” e não “servir-se do povo” como soe acontecer com os políticos profissionais nas repúblicas...


(*) advogado e presidente da Pró Monarquia



Fonte: Herdeiros do Porvir, n. 13, publicação da Pró Monarquia http://www.monarquia.org.br/

terça-feira, 10 de março de 2009

Editoral de Herdeiros do Porvir

Editoral
de Herdeiros do Porvir


No.
1 – setembro de 1995





Para bem compreender o futuro que nos aguarda, às portas do 3o.
Milênio da Era Cristã, nada melhor do que lançar
um olhar retrospectivo aos 200 anos que, em números redondos,
nos separam da Revolução Francesa de 1789.


Certamente não somos, nem poderíamos ser, daqueles que ao verem
evovado o regicídio de Luís XVI e de Maria Antonieta,
manifestam um sentimento selvagem de alívio, como se tal
acontecimento tivesse sido um ato de justiça histórica.
Não somos igualmente daqueles saudosistas que, segundo a
espirituosa expressão de um norte-americano, ainda perdem o
fôlego ao considerarem o trágico fim desse rei tão
condescendente e dessa rainha tão encantadora. Somos, isso
sim, daqueles que têm profunda consciência de que certos
problemas do passado são problemas continuamente vivos e que,
ainda hoje, a Revolução Francesa tem grande parte na
psicologia e no acontecer político, não só dos
próprios franceses, mas de todos os povos, ainda quando esse
acontecer político não tenha sido acompanhado pelos
rios de sangue de que nos fala a história de então.


O martírio dos reis cristianíssimos marca, de um ponto de
vista histórico, o começo de um movimento universal de
demolição que, como um tufão, vem abalando as
leis, as instituições e os costumes do glorioso
Ocidente cristão.


A Revolução que se desencadeava a partir da França,
então a capital cultural do mundo, procurou eliminar o ponto
ordenativo da ordem social e, como ele, as concepções
religiosa e política correlatas.


Sem ir mais longe, foi esse mesmo espírito que animou o movimento
que, no Brasil, derrubou, um século mais tarde, o trono dos
Braganças.






*
* *






Não se atenta contra a cabeça e princípio da ordem social
sem que as consequências as sofra todo o corpo. O que os
útimos 200 anos deixaram patante pe precisamente esta verdade:
A Revolução não parou não se esgotou nos
paroxismos do Terror. Ela foi-se desdobrando de modo a irradiar-se
por todo o corpo social.


Em seus aspectos essenciais, a histpória que começou a ser
escrita na França, mas cujas consequências são de
alcance universal, identifica-se com o surgimento, apogeu e ocaso de
um imenso e universal movimento de idéias, estilos de vida,
sistemas artísticos, instituições políticas,
sociais e econômicas. Um movimento ora violento e ostensivo,
ora pacífico e camuflado, mas sempre destrutivo.


Essses acontecimentos históricos, da França de 1789, marcam,
pois, o começo de uma Revolução no mais amplo
sentido do termo, uma Revolução total e de grande
alcance que já no início, como bem o expressou um de
seus cabecilhas, Rabaud de St. Etienne, visava todas as manifestações
do homem. É preciso, dizia, “mudar as idéias,
mudar as leis, mudar os costumes, mudar os nomes, mudar as coisas,
mudas as palavras, destruir tudo”.






*
* *






Entretanto, é necessário ter em consideração que os
problemas suscitados pela Revolução Francesa não
abarcam em si todo o movimentar da Revolução hodierna.
Essa Revolução se desenvolveu e metamoforseou, e
propõe, hoje, de modo explícito, uma modificação
de tudo.


Despudoradamente o relevou Herbert Marcuse, filósofo da rebelião de Maio
de 68 e expoente da chamada neoRevolução: “Devemos
alcançar as raízes da sociedade nos próprios
indivíduos. Hoje a mudança qualitativa, a liberaççao,
implica mudanças orgânicas de instinto e biológicas,
ao mesmo tempo que mudanças políticas e sociais.
Pode-se indubitavelmente falar de uma revolução
cultural, já que o protesto está voltado contra todo o
Estabelecimento cultural, incluindo a moral da sociedade existente.
Há uma coisa que podemos afirmar com segurança:
acabaram-se a idéia tradicional de revolução e a
estratégia tradicional de revolução. Estas
idéias são antiquadas. O que devemos empreender é
uma espécie de difusa e dispersa desintegração
do sistema” (*).


Trata-se, portanto, da introdução silenciosa e subreptícia
de germes de demolição na própria raíz de
cada uma das manifestações da atividade humana, de modo
a que nada do que é humano lhe escape. É, pois, uma
Revolução Cultural.


“A expressão revolução cultural – segundo
Pierre Fougeyrollas, outro expoente desta neo-Revolução
– significa verdadeiramente uma revolução das
maneiras de sentir, de atuar e de pensar, uma revolução
de maneiras de viver (coletivamete e individualmente), em suma uma
revolução da Civilização” (**).


Uma Revolução, portanto, que se diz Cultural para indicar a
amplitude e a periculosidade de seu poder demolidor.


Cultura é sinônimo de aperfeiçoamento. Cultivar, seja o
espírito seja a terra, é aperfeiçoar, tornar
frutífero, belo e harmonioso.


A Revolução Cultural, pelo contrário, visa tirar
dos eixos as coisas, tornando-as estéreis, desproporcionadas,
imperfeitas, dissonantes. Numa palavra, voltar as coisas contra seu
fim natural.






*
* *






Para que o ideal monárquico continue integralmente aquilo que
sempre foi, mas, por outro lado, não se fossilize na
imobilidade e em polêmicas, por vezes, um tanto peremptas e até
estéreis, é necessário compreender a contínua
metamorfose desta Revolução universal.


É evidente que as novas fórmulas revolucionárias, que
encantariam os regicidas de 1789, mas que eles não ousariam
explicitar – ou talvez não souberam explicitar –
apontam para a meta visada por todos eles. Ou seja, oa anarquização
de tudo, a subversão total, o caos absoluto.


O objetivo de tal Revolução é o nihilismo, reduzir
a nada e confundir no caos mais completo tudo aquilo que a
civilização e a cultura cristãs – frutos
preciosos do sangue de nosso Divino Redentor – levaram a seu
esplendor.


Esse fim, poucos o expressaram com tanta clareza quanto Marx, o qual num
“arrobo místico”, possuído pelo espírito
de destruição, exclamou: “Ao mundo que se levante
entre mim e o abismo o farei pedaços com minhas maldições
perduráveis, ainda que arrate o mundo à ruína.
Lançarei os braços ao redor de sua áspera
realidade: abraçado a im, o mundo perecerá caladamente,
e logo se afundará no nada absoluto” (***).


É a tal fim anarquizante que vai chegando paulatinamente a realidade
contemporânea. Os atentados de Osaka, Oklahoma ou Medellín,
tal como a escalada do terrorismo integrista muçulmano a nível
mundial, não são senão uma mostra disto. Por
outro lado, a insegurança e a crescente situação
indefesa da sociedade perante a expansão da indústria
do roubo, do sequestro e do tráfico em grandes cidades como o
Rio ou São Paulo, constituem outros sintomas de uma sociedade
em decomposição e que se dissolve no caos.


Para não falar do alastramento de aberrações morais
como o homossexualismo e a generalização do aborto,
essa violenta e brutal transformação do, por natureza,
fértil e protetor seio materno em estéril câmara
de tortura e de morte de inocentes, aos quais se nega a mais
elementar acolhida. Aberrações a par das quais não
é de estranhar que brotem outras como a do parricídio e
da autanásia, em que os filhos não desejados têem
como contrapartida os pais e os velhos não desejados.






*
* *






Hoje em tida, pois, a Revolução Cultural põe em jogo,
não só o sim ou não a respeito das formas de
governo, Monarquia ou República, mas o sim ou não a
respeito de tudo: do Estado institucional ou da pulverização
anárquica do corpo social; da instituição
tradicional da família ou das formas aberrantes de sociedades
ditas “conjugais” entre pessoas do mesmo sexo; da moral
ou das formas mais indigestas e convulsivas da imoralidade....
digamos tudo em uma palavra só: da crença absoluta em
um Deus pessoal ou o do relativismo e do ateísmo completos.


Para nós, é de capital importância ter noção
de que os que vêem, no conjunto de problemas levantados pela
Revolução Francesa de 1789 as únicas facetas da
Revolução hodierna. Estão fora do tempo. Como
igualmente fora do tempo estão os que se arrepiam de pânico
quando consideram que, hoje em dia, até mesmo entre os jovens,
há admiração por instituições como
a nobreza ou a realeza, e se tem saudades de figuras, como por
exemplo, a de D. Pedro II.


É preciso compreender que, atualmente, se detectam na opinião
pública dois movimentos profundos e que caminham em sentidos
diametralmente opostos. De um lado, o daqueles que tendem a chegar
aos paroxismos últimos desta Revolução Cultural
acima descrita. De outro, cada vez mais numeroso e mais pujante, o
daqueles que dão sinais inequívocos de se estarem
libertando da escravidão às utopias e mitos
igualitários, ao mesmo tempo que começam a voltar-se
admirativamente para o glorioso passado cristão, buscando os
valores de ordem natural e sobrenatural que o inspiraravam e lhe
conferiram grandeza inigualável.


Portanto, acima da crise, do caos e da confusão generalizada, vemos o
ideal de Civilização Cristã não como um
valor ultrapassado, mas com oum farol que nos indica um porvir
glorioso do qual somos chamados a ser os herdeiros.


Como Herdeiros do Porvir, para contrarrestar essa imensa avalanche
da Revolução Cultural, devemos ir semeando por todas as
partes os perenes e sempre novos ideais da Civilização
Cristã que, como germes de uma Contra-Revolução
Cultural, reorientem os espíritos e os corações,
para essse movimento ascencional rumo à perfeição,
em todos os âmbitos da vida.


É com essa meta que iniciamos esta publicação, qual desde
já colocamos aos pés da excelsa Padroeira e Rainha do
Brasil, Nossa Senhora Aparecida, uma vez que temos bem vincada em
nossas almas a certeza de que nada de grande e de sólido se
constrói sem a indispensável ajuda da Providência.


(*) La sociedade carnívora, ed. Galerna, Buenos Aires, 1969, 2a. ed
(**) Marx, Freud et la révolution totale, Anthropos, Paris, 1972.}
(***) apud D. Cardozo, in “Boletín de Ciencias Politicas y
Sociales”, Mendonza, Argentina, n. 22, 1978, p. 53.


www.monarquia.org.br
www.herdeirosdoporvir.blogspot.com

segunda-feira, 2 de março de 2009

A Crise Atual e a Economia em uma Sociedade Orgânica


A Crise Atual e a Economia em uma Sociedade Orgânica


J. G. Beccari*


A crise que se abateu sobre a economia capitalista pôs à mostra os pés de barro da sociedade industrial e globalizada moderna, a ponto de alguns pregarem a socialização do Ocidente,através da estatização de bancos e grandes empresas e a instauração de estritos controles e regulamentos sobre os demais entes econômicos. As grandes corporações modernas, onde o controle é difuso e o poder está em mãos de pessoas descompromissadas com os detentores do capital, estão a um passo da socia-
lização.

Ora, depois do estrondoso fracasso do socialismo, caracterizado pela pobreza ainda reinante nos países que teimam em mantê-lo, como a Cuba de Fidel Castro, seria um erro ainda maior cair nessa tentação.Ademais, à luz da doutrina cristã, o socialismo é de si ilegítimo ao preten-der estabelecer entre os homens uma sociedade igualitária, que afronta a ordem natural e que nega a propriedade privada objeto de dois Mandamentos da Lei de Deus: “Não roubarás” e “Não cobiçarás as coisas alheias.”

Qual é então a solução? Faz-se necessário entender as causas do pro-blema. Os economistas de todos os naipes divergem sobre isso. Limitam-se a constatar que a produção exagerada de bens, vendidos através de insidiosas campanhas de marketing, com o financiamento temerário de instituições financeiras, tudo isso aliado ao desejo incontido de lucro rápido de muitos consumidores, levou à formação de “bolhas”.

A verdade é que no âmago das crises as tendências desregradas do homem moderno. Especialmente quando se verifica que o homem de hoje deixou de ter uma razão mais elevada para sua exis-tência e de se preocupar com seu aperfeiçoamento moral e espiritual. Passou a viver o “aqui e agora”, tentando “tirar vantagem” de tudo, olvidando-se de suas obrigações para com Deus, para com sua família e até para consigo mesmo...

A hierarquia e o respeito na sociedade moderna não se pautam mais pelo critério do valor pessoal e do serviço ao bem comum, mas tão somente pela posse de bens materiais, dando, por vezes, lugar de proeminência a elementos amorais da burguesia abastada, quando não a oportunistas de duvidosa formação.

Além disso, a globalização, que transfere a produção industrial e a prestação de serviços para países longínquos, ins-táveis ou mesmo dominados por ditaduras socialistas, torna as economias dependentes de fatores extrínsecos ao controle local.

O capitalismo, sob a égide dos princípios da propriedade privada, da livre iniciativa e do respeito à função subsidiária do Estado, que, ao contrário do socia-lismo, é de si legítimo, se presta a abusos quando desvinculado dos princípios morais e cristãos. Abusos estes que contém o gérmen da atual crise ao colocar em primeiro plano a busca desenfreada do lucro como finalidade última e exclusiva da atividade econômica.

À vista do acima exposto, ousamos dizer que, se, no campo político, a restauração da ordem implica na volta da monarquia numa sociedade familiar e aristocrática, no campo econômico, a solução da crise está no retorno do homem a uma impostação perante a vida que coloque, verticalmente, Deus acima de todas as coisas e, por conseqüência, coloque o seu desenvolvimento moral e espiritual acima dos bens materiais. Diz o Evangelho: “procurai, antes de tudo, o Reino de Deus e a sua Justiça, e o resto todo vos será dado por acrés-cimo.”

Uma sociedade sacral, onde todos estivessem voltados para atingir o seu fim último, ordenaria automaticamente o consumo e a produção para suprir as legítimas necessidades do homem, sem cair em exageros ou desequilíbrios. O homem voltado para Deus e mais centrado em si e no seu próximo seria tendente a aproveitar e garantir o que possui. Deixaria de se voltar para o lado, horizontalmente, procurando vantagens mirabolantes, por vezes em outras pessoas,em outras situações pessoais ou em locais distantes.

Assim, as necessidades do homem bem ordenado seriam atendidas antes de tudo pelo seu trabalho e pelos bens produzidos por produtores próximos que se utilizariam da matéria prima e mão de obra locais, desenvolvendo ao máximo as potencialidades regionais, sem a dependência de fatores externos, fora de seu controle. A estabilidade daí decorrente, tal como nas antigas fazendas nas quais quase tudo se produzia internamente,
é evidente.

A produção visaria primordialmente atender as necessidades dos consumidores. A qualidade e o requinte dos bens teriam prioridade em relação à quantidade. O lucro pela produção proporcional àquelas necessidades garantiria ao produtor e à sua família uma vida condigna e a melhoria de sua situação pessoal. Os consumidores, por seu turno, se limitariam a adquirir aquilo de que necessitassem, dentro de suas possibilidades.

Tal sociedade seria ordenada hierarquicamente em função do serviço de seus membros à Igreja e ao bem comum, e não somente em função da riqueza. Isso colocaria em seu devido lugar as tendências humanas, desregradas por natureza.

Tal sociedade não é utópica como poderia parecer à primeira vista e já existiu na História, na Idade Média. Na Encíclica Immortale Dei, Leão XIII des-creveu nestes termos a Cristandade medieval: “Tempo houve em que a filosofia do Evangelho governava os Estados. Nessa época, a influência da sabedoria cristã e a sua virtude divina penetravam as leis, as instituições, os costumes dos povos, todas as categorias e todas as relações da sociedade civil. Então a Religião instituída por Jesus Cristo, solidamente estabelecida no grau de dignidade que lhe é devido, em toda parte era florescente, graças ao favor dos Príncipes e à proteção legítima dos Magistrados. Então o Sacerdócio e o Império estavam ligados entre si por uma feliz concórdia e pela permuta amistosa de bons ofícios. Organizada assim, a sociedade civil deu frutos superiores a toda expectativa, cuja memória subsiste e subsistirá, consignada como está em inúmeros documentos que artifício algum dos adversários poderá corromper ou obscurecer”.

A hierarquia social da Idade Média era encabeçada pelo clero, cujo direi-to provinha da doação de si mesmo à religião – clero este que tinha por incumbência, ainda, prover as duas mais dispendiosas atividades do Estado moderno, a instrução e a saúde, através das escolas e hospitais mantidos pelos religiosos. A seguir vinha a nobreza, tributada com o chamado “imposto de sangue”, decorrente do serviço militar à nação, e incumbida, ainda, de prestar a Justiça e da segurança interna. Por fim vinha o povo que, dispensado da guerra, podia se dedicar comodamente ao comércio e à produção, atendendo às necessidades materiais da sociedade, mas tributário da nobreza.

A partir do Renascimento e do Huma-nismo a religião deixou de ser o centro da existência humana, que passou a ser ocupado pelo próprio homem. Homem este que, embora acumulando riquezas de maneira lícita, pois fruto de seu trabalho e engenho, já era dominado por suas paixões sem os limites da moral. A burguesia, levada por ideólogos revolucionários, a pretexto de possuir fortuna, passou então, de maneira indevida, a reivindicar a direção da vida pública, culminando com a Revolução Francesa.

A Revolução Industrial não foi senão um seguimento do movimento tendencial de acumulação ilimitada de riquezas. A produção em massa, em que a quantidade e o lucro se sobrepõem à qualidade e ao atendimento das necessidades dos consumidores, alterou o foco da economia. Seguindo os preceitos de Adam Smith, a produção deixou de ser regional e proporcionada às necessidades locais. A propaganda passou a induzir ao consumo, às vezes muito além da zona natural de influência dos produtores e das próprias necessidades dos consumidores. Daí para a globalização foi apenas um passo a mais...

Temos, ainda, a indução à urbanização. Quebra-se a organização social familiar e patriarcal, ligada sobretudo à terra, que era de si mais condizente com a natureza humana. A família moderna, urbana, passa a ser nuclear (pai, mãe e um ou dois filhos) subordinados à ditadura dos meios de comunicação de massa. A previdência social e o amparo aos doentes deixam de ser feitos pela família e passam ao Estado.

Dispensamo-nos, aqui, de abordar o tema do empobrecimento cultural resultante da produção industrial em massa e globalizada, o que é objeto de estudos de diversos especialistas. Certo é que a rica diversidade regional tende a desaparecer. Por exemplo, os mil queijos artesanais de um país europeu seriam substituídos pelo queijo único pasteurizado...

Retornando ao tema deste artigo, temos, pois, que, pelos fatores acima, a economia moderna ficou sujeita a crises cada vez mais agudas e incontroláveis. E, não nos iludamos: a proliferação de leis e regulamentos num stado totalitário, além de trazer a centralização e a injustiça, não evitará o caos e a pobreza característicos dos países socialistas. Somente a volta à ordem natural poderá salvar a Babel moderna da desagregação e direcionar o mundo para um novo período de progresso material e de verdadeira riqueza.


* Advogado e presidente do Pró Monarquia

domingo, 22 de fevereiro de 2009

A justiça dos Títulos Nobiliárquicos Hereditários


Luís Alves de Lima e Silva (1803 - 1880)
Caxias foi o único duque (1869) do Império do Brasil.

José Guilherme Beccari*


Os filhos são a continuação do homem.

Imagine o leitor que um grande personagem de nossa história tivesse dedicado toda a sua existência a serviço do país, quiçá nos campos de batalha, e que graças a essa pessoa, por um trabalho incansável de uma vida, a nação devessa a sua pacificação e a consolidação de suas fronteiras.
De tal modo esse homem teria sido absorvido por essa missão que não teria tido tempo para dedicar-se a atividades lucrativas que garantissem o sustento condigno de suas filhas após a sua morte. Imaginemos que essa pessoa tivesse recebido a maior honraria do Império do Brasil, um título nobiliarquico elevado, mas que não tivesse podido transmiti-la a seus descendentes, vez que os títulos de nobreza não eram hereditários. Pois esta, prezado leitor, foi a história do nosso Duque de Caxias! Conta-se que suas filhas passaram dificuldades financeiras não condizentes com a estatura história de seu genitor, mitigada apenas por uma pequena pensão que lhe foi posteriormente concedida.... Não teria sido justo que os descendentes daquele herói de nossa nação pudessem ter herdado ao menos um título nobiliárquico garantido àquela família o reconhecimento do país aos sacrifícios do seu ilustre antecessor, proporcionando-lhes um “status” à altura?


Imagine, outroassim, o leitor que existisse uma cidade ameaçada por uma contagiosa doença que já dizimara a população de localidades vizinhas. Imaginemos que um residente muito rico, um magnata da região, em lugar de se refugiar seguramente no exterior com sua numerosa família e levando seus bens, optasse por dedicar sua numerosa fortuna e seus esforços à criação de uma instituição de saúde que não somente tratasse daquela população salvando suas vidas, mas até tivesse descoberto em seus laboratórios a cura da malfadada doença. No processo, porém, esse benemérito que salvou a cidade se viu velho e inválido, após ter esgotado o patrimônio de sua familia que, embora digna, ficou privada das benesses que uma condição financeira ou social superior poderiam proporcionar.

Este segundo caso é um exemplo apenas hipotético. Mas não seria bonito, e até um imperativo de justiça, que a cidade agradecida, garantisse aos descendentes daquela pessoa ao menos uma posição social privilegiada proporcionada por um título de nobreza hereditário?
Este era o papel dos títulos de nobiliárquicos hereditários. Eles eram a forma de recompensar na Terra o bem que certos homens ou certas famílias fizessem a uma comunidade, muitas vezes com o custo da fortuna pessoal, quando não da vida.

Embora um título nobiliárquico não passe, o mais das vezes, de um diploma assinado pelo monarca, a história nos mostra que as famílias assim distinguidas cultivavam a honra de seus antecessores ilustres e acabam, muitas vezes, por se transformar em árvores frondosas que produzem, vez por outra, frutos preciosos para a nação. Ademais, estas famílias aristocráticas passam a ser o esteio de uma sociedade orgânica.

É por isso que propomos que a restauração da monarquia no Brasil seja acompanhada da criaççao de uma nobreza hereditária a fazer justiça para com os benfeitores da nação, diretamente e/ou na pessoa de seus descendentes, garantindo, assim, a formação de elites aristocráticas. A Família Imperial não seria senão o pináculo desta aristocracia hereditária.


*Advogado e Presidente da Pró Monarquia.
Herdeiros do Porvir 16 – Maio de 2006.

terça-feira, 23 de dezembro de 2008

O contribuinte vive às custas da Monarquia inglesa




Considerando o esplendor da monarquia inglesa alguém poderia objetar que este é de um um sistema perverso. Veja-se, dirá esse alguém, o luxo injustificado em detrimento dos cofres públicos e, em conseqüência, do contribuinte britânico.


Esqueçamos, no momento, que a nação inglesa talvez nem existisse hoje e tivesse sido extinta e derrotada no passado por povos mais fortes sem as defesas da nobreza e de uma família real bem estabelecidas militarmente às suas próprias custas. Esqueçamos também todo o longo gestar de uma cultura que, sob a égide desses monarcas, tornou o povo inglês uma presença marcante no conjunto das nações.


Voltemo-nos para um aspecto corriqueiro, mas que não deixa de ter sua importância, o lado econômico. É bem verdade que argumentar a favor de um sistema monárquicos, apenas por seu lado econômico, não é o mais elevado, nem propriamente decisivo. Mas uma vez que detratores dos regimes monárquicos - e em concreto do inglês - também o atacam nesses aspecto, não é de todo descabido analisar tal faceta.


Surpresa: a Monarquia inglesa não pesa sobre o contribuinte britânico. Pelo contrário, ela dá lucro indireto para o contribuinte criando as condições para o turismo, para uma forte indústria e um estável setor de serviços. E dá também lucro direto para o tesouro e, em conseqüência, para o contribuinte. Explicamos.


Diversos são os pontos pelos quais se provaria que o lucro indireto ao contribuinte britânico é tão grande que este vive hoje, largamente, às custas da instituição monárquica vigente em seu país. Com certeza, para os quase 10 milhões de turistas que visitam a Inglaterra anualmente, a pompa e circunstância e jóias da monarquia inglesa representam o maior atrativo daquele país. São muitos bilhões de libras esterlinas por ano a mais para a economia local. Por outro lado, a estabilidade proporcionada pela monarquia tornou possível a instalação na City de Londres do maior centro financeiro do Mundo (Nova Iorque e Tóquio são mais fortes se considerarmos os respectivos mercados internos; entretanto, o mais importante mercado internacional composto pelos maiores bancos europeus, americanos e japoneses está sediado hoje em Londres). Poderíamos igualmente afirmar que o poderio econômico e cultural inglês só pôde se estabelecer mundialmente como um reflexo do antigo Império inglês. Estes são alguns dos benefícios que não tão indiretos que a Monarquia dá ao contribuinte inglês.


Mas pode falar-se em lucro direto? Isto não é um sonho? Poderíamos começar por lembrar pitorescos e familiares fatos que mostram que o senso de economia da monarquia na Inglaterra (e portanto direta do contribuinte) se reflete até nas pequenas coisas. Vamos, porém, a alguns fatos substanciosos.


O "The Times", considerado o mais sério jornal inglês, no dia 2 de fevereiro de 1996, publicou um artigo que aborda curiosos e ao mesmo tempo importantes aspectos das finanças da monarquia inglesa. Noticia que, com a antecedência de oito meses, como é próprio das instituições estáveis, um ex-sócio da prestigiosa empresa de auditoria e contabilidade KPMG, o Sr. Michael Peat, de 46 anos, foi escolhido para ser o próximo "Keeper of the Queen and Receiver General of the Duchy of Lancaster", em outras palavras o tesoureiro da Casa Real, suas propriedades, seus estábulos e seus cavalos, substituindo Sir Shane Blewitt, de 63 anos, que se retira após uma longa carreira.


O Sr. Peat tem dado provas de sua competência no trato das economias da Casa Real. Desde 1990 trabalha para ela como representante daquela firma de contabilidade fundada por seu pai. Notem-se aqui dois pontos: dentro de um regime familiar monárquico os servidores vão sendo escolhidos com antecedência e passam pela prova do tempo; e, sendo o Sr. Peat de uma tradicional família de contadores (herdeiro e sócio de um dos gigantes daquele ramo) ele certamente teria ocupações muito mais rentáveis do que seu salário de servidor de 116.000 libras anuais. É, no entanto, um "old Etonian", ou seja, um ex-estudante do prestigioso colégio de Eton, e provém de uma longa dinastia de servidores reais. Seu pai e seu avô foram auditores privados da rainha. A honra de servir está para um homem assim, acima do mero desígnio, de si legítimo, de ganhar dinheiro.



Desculpe-nos o leitor baixarmos agora aos números. Mas, para se ter uma idéia do caráter e competência do Sr. Peat, somente nos quatro últimos anos, com sua iniciativa de instalação de vidros duplos no palácio de Buckingham e no Castelo de Windsor ele economizou mais de três milhões de libras em aquecimento. Sua meta é atingir quinze milhões de libras na redução nos custos dos palácios até o ano 2000. No ano passado o Sr. Peat conseguiu, em medidas sábias, reduzir os gastos de eletricidade da Rainha em 9%, sua despesa com gás em 17% e sua conta de água em 53%. A abertura do Palácio de Buckingham e do Castelo de Windsor ao público proporcionaram quatro milhões de libras que estão sendo utilizadas para a reconstrução da parte do Castelo de Windsor destruída em recente incêndio. Da dotação anual da Rainha de 7,9 milhões de libras, utilizada para a condução de suas obrigações públicas e a manutenção de seu escritório, o novo tesoureiro conseguiu nos últimos anos um superávit de 16,9 milhões de libras do qual o contribuinte vai se beneficiar diretamente quando da renegociação daquela dotação por mais 10 anos, em 2001.


Isto porém não é tudo. De fato, nas finanças da família real, o grande vencedor é o Tesouro (e portanto o contribuinte), segundo o artigo do "The Times". Os custos totais da monarquia na Inglaterra, desde as flores da Rainha ao Iate Real, são estimados em 50 milhões de libras por ano. Objetará precipitadamente nosso imaginário interlocutor: eis aí precisamente o desperdício. Como então, falar em lucro direto ao contribuinte?




Seríamos aqui tentados a desviar a discussão e lembrar que o Palácio do Planalto custa ao contribuinte brasileiro três vezes mais do que Buckingham ao contribuinte inglês. Mas não vamos fazê-lo. Prossigamos com o "The Times". Com efeito, informa o conceituado jornal britânico, que, no ano passado, as propriedades da Coroa, tradicionalmente entregues ao governo no início de cada reinado, proporcionaram o "Chancellor of the Exchequer" (Ministro da Fazenda) a renda de 84,8 milhões de libras esterlinas! Ou seja, a Monarquia proporcionou um lucro líquido direto para o contribuinte inglês de 34,8 milhões de libras esterlinas. À vista do exposto, é exagero dizer que o contribuinte inglês vive ao menos, em parte, às custas da monarquia?


José Guilherme Beccari
Advogado e Presidente do Pró Monarquia

Fonte: boletim Herdeiros do Porvir, No 3.